Regras para recolhimento do lixo: A coleta seletiva nos condomínios
Todo dia, o lixo que você descarta desaparece da sua vista em poucos minutos. Mas ele não deixa de existir. No Brasil, esse hábito cotidiano se transforma em um problema de escala gigantesca: são mais de 224 mil toneladas de resíduos gerados diariamente, com cada brasileiro produzindo, em média, 1kg de lixo por dia, segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos do Brasil, da Abrelpe.
Dentro de um condomínio, onde dezenas ou centenas de pessoas convivem, o impacto desse volume de lixo se multiplica. Quando não há regras claras para o recolhimento e separação dos resíduos, surgem rapidamente os conflitos, a desorganização e os riscos à saúde.
Além disso, o mau gerenciamento do lixo compromete a imagem do condomínio e pode gerar sanções ambientais.
A coleta seletiva entra nesse cenário como uma solução eficiente e necessária. Mais do que uma obrigação ambiental, ela fortalece o senso de comunidade e melhora a rotina de todos — moradores, funcionários e o próprio síndico. Com pequenas mudanças de hábito e boa comunicação, é possível transformar a maneira como o lixo é tratado no dia a dia do condomínio.
Este conteúdo é um convite para repensar práticas antigas, adotar atitudes sustentáveis e garantir que seu condomínio esteja alinhado com o futuro da gestão condominial.
Índice
- A gestão do lixo nos condomínios
- O que diz a legislação sobre a coleta do lixo?
- Como devem ser as lixeiras nos condomínios?
- Polêmica envolvendo coleta do lixo em Pernambuco
- Como deve ser a coleta do lixo nos condomínios?
- Como implementar a coleta seletiva de forma eficiente?
- Erros comuns na gestão de resíduos e como evitá-los
- Os benefícios para o condomínio e o meio ambiente

A gestão do lixo nos condomínios
A produção de resíduos no Brasil segue um ritmo preocupante. De acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, da Abrelpe, só em 2022 foram geradas 81,8 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos — o que equivale a 224 mil toneladas por dia.
Na prática, cada brasileiro produziu em média 381 kg de lixo por ano, ultrapassando 1 kg por dia por pessoa.
Agora imagine o cenário de um condomínio de médio porte: 20 blocos com 24 unidades cada, com uma média de 2 moradores por apartamento. São 960 pessoas convivendo no mesmo espaço.
Seguindo a média nacional, esse condomínio gera aproximadamente 1 tonelada de lixo por dia. Esse número salta para 7 toneladas por semana e pode chegar a quase 30 toneladas por mês.
É muito lixo para um espaço coletivo — e sem uma gestão estruturada, os problemas se acumulam tão rápido quanto os sacos nas lixeiras. Acúmulo indevido, mau cheiro, vetores como baratas e ratos, descarte incorreto e até penalidades legais podem surgir quando não há planejamento e regras claras.
Gerenciar esse volume exige mais do que boa vontade. Requer organização, conscientização dos moradores e o envolvimento de todos: do síndico à equipe de limpeza, passando por cada unidade que gera resíduos diariamente.
A boa notícia é que, com medidas simples e contínuas, é possível transformar esse desafio em um modelo de sustentabilidade condominial.
O que diz a legislação sobre a coleta do lixo?
A coleta e o descarte de resíduos sólidos no Brasil não são apenas questões de cidadania — são deveres legais. A legislação brasileira trata o tema com seriedade e impõe responsabilidades tanto ao poder público quanto à população, incluindo os condomínios.
A principal norma que orienta a gestão dos resíduos é a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei nº 12.305/2010.
Essa lei estabelece a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, ou seja, fabricantes, distribuidores, consumidores e gestores públicos devem atuar juntos para garantir o destino correto dos resíduos. A coleta seletiva aparece como um dos instrumentos centrais para atingir esse objetivo.
Outro avanço importante veio com o Novo Marco Legal do Saneamento Básico (Lei nº 14.026/2020), que tornou obrigatória a implementação da coleta seletiva pelos municípios.
Além disso, a lei prevê a cobrança da taxa de manejo de resíduos sólidos, o que reforça a necessidade de que cada local — inclusive os condomínios — tenha controle sobre como e onde descarta seu lixo.
Outras leis também dão sustentação jurídica à boa gestão dos resíduos. A Lei nº 2.312/1954, conhecida como Código Nacional de Saúde, e a Lei nº 6.938/1981, que institui a Política Nacional do Meio Ambiente, proíbem o descarte inadequado de lixo, especialmente em áreas públicas e comuns.
Na prática, essas legislações exigem que os condomínios adotem medidas de organização e educação ambiental para garantir que o lixo seja separado, armazenado corretamente e encaminhado para a coleta conforme as exigências municipais.
Ignorar essas normas pode levar a multas, notificações e até responsabilização civil ou criminal, em casos mais graves.
Como devem ser as lixeiras nos condomínios?
A organização das lixeiras em condomínios vai muito além de estética ou praticidade: trata-se de um elemento fundamental para a higiene, a segurança e o sucesso da coleta seletiva. Quando o descarte é feito de forma desorganizada, aumentam os riscos de contaminação, infestação de pragas e acúmulo indevido de resíduos.
Para que o sistema funcione bem, é essencial que os condomínios adotem lixeiras adequadas, sinalizadas e estrategicamente posicionadas. O ideal é que os pontos de descarte respeitem os seguintes critérios:
- Separação por tipo de resíduo: O mínimo necessário é a divisão entre recicláveis e orgânicos, mas o ideal é separar em quatro categorias: papel, plástico, metal e vidro, além de resíduos orgânicos. Isso facilita o trabalho das cooperativas e reduz o risco de contaminação dos materiais recicláveis.
- Cores padronizadas: Segundo a ABNT NBR 13221, cada tipo de resíduo deve ser identificado por uma cor: azul (papel), vermelho (plástico), verde (vidro), amarelo (metal), marrom (orgânico), cinza (resíduos gerais), entre outras. Utilizar essa padronização ajuda na educação visual dos moradores.
- Capacidade adequada: As lixeiras devem ter capacidade proporcional ao número de moradores e à frequência da coleta. Evitar recipientes muito pequenos é essencial para que os resíduos não transbordem antes da retirada.
- Tampas e vedação: As lixeiras devem ser bem vedadas para evitar o acesso de animais, o vazamento de líquidos e a liberação de odores fortes. Isso é especialmente importante em áreas fechadas, como garagens ou halls de serviço.
- Fácil acesso e sinalização clara: Os pontos de descarte precisam estar bem localizados, próximos às rotas de circulação dos moradores, mas sem comprometer a ventilação, segurança ou estética do condomínio. A sinalização deve ser visível e educativa, com orientações simples sobre o que pode ou não ser descartado.
Além disso, é recomendável manter uma área exclusiva para armazenamento temporário dos resíduos, especialmente em condomínios maiores. Esse espaço deve ser limpo com frequência, possuir boa ventilação e ser acessível apenas por funcionários ou prestadores de serviço.
A polêmica em Caruaru
A gestão de resíduos sólidos entrou no centro de um debate acalorado em Caruaru (PE). A prefeitura sancionou, em julho de 2025, uma nova lei que transfere a responsabilidade pela coleta, transporte e destinação final do lixo para os próprios condomínios residenciais e estabelecimentos comerciais de grande porte.
Pelo texto aprovado, a regra vale para condomínios com mais de 40 unidades e comércios com área superior a 3 mil m². Após um prazo de adequação de 120 dias, contado a partir de 23 de julho de 2025, a prefeitura deixará de prestar o serviço de coleta pública nesses locais.
Segundo a administração municipal, a medida segue os princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010) e busca alinhar Caruaru às diretrizes federais sobre responsabilidade compartilhada.
No entanto, o anúncio pegou muitos gestores condominiais de surpresa — especialmente pela proximidade do prazo e o impacto financeiro envolvido.
A principal preocupação gira em torno da necessidade de contratar empresas privadas especializadas para assumir toda a logística de resíduos. Isso inclui não só o recolhimento interno, mas também o transporte até o local de destinação final.
Em um cenário onde os orçamentos dos condomínios já estão fechados para o ano, a mudança pode gerar desequilíbrio financeiro e descontentamento entre os moradores.
♻️ Leia mais: Nova lei altera recolhimento de lixo em Caruaru/PE
Como deve ser a coleta do lixo nos condomínios?
Uma boa gestão de resíduos começa dentro das unidades, mas é na coleta interna e externa que o sistema realmente se consolida.
Para que tudo funcione com eficiência e sem transtornos, é essencial que os condomínios estabeleçam rotinas bem definidas, regras claras e um fluxo adaptado à realidade local.
O primeiro ponto de atenção é a frequência da coleta interna. Em condomínios residenciais, o mais comum é que os moradores levem o lixo até os pontos de descarte — normalmente localizados nas áreas comuns de cada andar ou nos térreos.
É papel da administração garantir que esses pontos sejam limpos diariamente, evitando acúmulos, vazamentos e odores.
Já nos condomínios onde há coleta porta a porta, especialmente os de alto padrão, a equipe de limpeza deve seguir um cronograma rígido de passagem nos horários determinados.
É fundamental orientar os moradores sobre os dias e horários corretos para deixar os sacos de lixo na porta, evitando exposição prolongada nos corredores e minimizando riscos sanitários.
Outro fator crítico é a integração com o serviço público de coleta. A administração precisa estar alinhada com o calendário da prefeitura ou, caso contrate uma empresa privada, manter comunicação direta e rotinas compatíveis com a demanda do prédio.
Lembre-se: se os resíduos não forem retirados com a frequência necessária, o acúmulo pode gerar multas, além de problemas de saúde pública.
Como implementar a coleta seletiva de forma eficiente?
Implantar a coleta seletiva no condomínio é mais do que distribuir lixeiras coloridas. Para que a iniciativa funcione de verdade, é preciso criar um sistema funcional, com educação, organização e engajamento contínuo dos moradores e da equipe interna.
O primeiro passo é fazer um diagnóstico da realidade do condomínio. Quantas unidades existem? Qual o volume estimado de resíduos por dia? Há espaço adequado para a separação e armazenamento dos materiais recicláveis? Essas respostas ajudam a definir o escopo do projeto e as adaptações necessárias.
Na sequência, o síndico deve definir quais categorias de resíduos serão separadas. O modelo básico, com recicláveis e orgânicos, já representa um grande avanço. Mas quanto maior o nível de separação (papel, plástico, vidro, metal), maior o aproveitamento pelos centros de triagem ou cooperativas.
Com isso definido, vem a fase estrutural: instalação de lixeiras padronizadas, sinalização clara, cartazes educativos e — se possível — criação de um ponto de entrega voluntária (PEV) para resíduos especiais, como pilhas, lâmpadas ou óleo de cozinha.
Mas o que realmente diferencia um sistema bem-sucedido é a educação ambiental. Moradores precisam saber o porquê da separação, como devem descartar os materiais e quando acontece a coleta. Realizar campanhas internas, enviar comunicados periódicos e até promover oficinas ou palestras são ações simples que aumentam significativamente o engajamento.
Outro fator essencial é a parceria com uma cooperativa ou empresa de coleta seletiva. O condomínio pode entrar em contato com iniciativas locais que recolhem os recicláveis e destinam corretamente os materiais. Em muitos casos, essas organizações fornecem relatórios mensais — o que contribui para a transparência da gestão e reforça o compromisso ambiental do condomínio.
Por fim, monitore o processo. Avalie se os moradores estão descartando corretamente, se há contaminação entre os resíduos, e ajuste o sistema conforme a necessidade. A coleta seletiva só se torna eficiente quando faz parte da rotina coletiva, com participação ativa de todos.
Como evitar erros na gestão de resíduos?
Mesmo com boa intenção, muitos condomínios cometem erros que comprometem a eficiência da coleta de lixo e da coleta seletiva. Identificar essas falhas é essencial para corrigi-las a tempo e evitar problemas sanitários, financeiros e até legais.
Veja os principais equívocos e como evitá-los:
- Falta de orientação para os moradores: Muitos moradores não sabem como separar os resíduos corretamente. Sem campanhas educativas ou comunicados visuais, a coleta seletiva se torna ineficaz.
➤ Como evitar: Invista em comunicação constante — murais, avisos nos elevadores, vídeos explicativos e informativos no app do condomínio. - Lixeiras mal posicionadas ou insuficientes: Quando os pontos de descarte são poucos, mal localizados ou não identificados corretamente, os moradores tendem a descartar o lixo de forma errada ou deixá-lo em áreas inapropriadas.
➤ Como evitar: Avalie os fluxos do prédio e instale lixeiras bem sinalizadas e de fácil acesso, respeitando as normas da ABNT. - Mistura de resíduos recicláveis e orgânicos: A contaminação dos recicláveis com restos de alimentos ou líquidos inviabiliza o reaproveitamento do material.
➤ Como evitar: Oriente os moradores a lavar e secar os recicláveis antes do descarte e sinalize claramente as lixeiras por tipo de material. - Desconhecimento do calendário de coleta pública ou privada: Se o condomínio não se organiza conforme os dias de coleta, o lixo pode acumular ou ser descartado de forma irregular.
➤ Como evitar: Mantenha um cronograma visível e atualize os moradores sempre que houver mudança na coleta. - Falta de treinamento da equipe de limpeza: Funcionários despreparados podem comprometer todo o sistema, misturando resíduos, usando EPIs incorretos ou limpando inadequadamente as áreas de descarte.
➤ Como evitar: Ofereça treinamentos periódicos e forneça os equipamentos certos para manuseio de resíduos. - Ausência de um ponto de descarte para resíduos especiais: Lâmpadas, pilhas, eletrônicos e óleo de cozinha acabam indo para o lixo comum por falta de um ponto de entrega voluntária (PEV).
➤ Como evitar: Reserve um espaço seguro no condomínio para esse tipo de descarte e firme parceria com pontos de coleta externos. - Não acompanhar a legislação vigente: Ignorar as leis municipais e federais pode gerar multas e ações judiciais.
➤ Como evitar: O síndico deve acompanhar as atualizações legais e, se necessário, contar com apoio jurídico e consultoria especializada.
Evitar esses erros é o primeiro passo para uma gestão de resíduos eficiente, sustentável e reconhecida pelos moradores como parte de uma administração responsável.
Conclusão: uma responsabilidade de todos
A gestão dos resíduos sólidos já deixou de ser uma tarefa exclusiva do poder público. Com o aumento expressivo da geração de lixo nas cidades — mais de 224 mil toneladas por dia, segundo a Abrelpe —, é inevitável que condomínios, empresas e cidadãos assumam um papel mais ativo nesse processo.
O caso de Caruaru (PE) ilustra bem essa tendência. A nova lei municipal transfere a responsabilidade da coleta e destinação final dos resíduos para os próprios condomínios com mais de 40 unidades. Assim, isso mostra como as Prefeituras estão se adequando à legislação, e como a responsabilidade vem, pouco a pouco, se deslocando para quem gera o lixo: todos nós.
Se produzimos mais, precisamos repensar como descartamos. E isso inclui os espaços onde vivemos. Os condomínios — principalmente os maiores — devem se adaptar a essa nova realidade, com regras claras, estrutura adequada e participação ativa dos moradores.
A tendência é que outras cidades sigam o mesmo caminho de Caruaru, implementando leis que exigem mais organização e consciência ambiental dentro dos empreendimentos residenciais. Ou seja, além da obrigação legal, há uma mudança cultural em curso: reciclar, separar e cuidar do lixo não é mais um diferencial — é um dever coletivo.
Cabe aos síndicos liderarem esse processo e aos moradores abraçarem a causa. Afinal, um condomínio mais limpo, sustentável e bem gerido começa com pequenas atitudes diárias. E o futuro da convivência urbana agradece.
Os benefícios para o condomínio e o meio ambiente
Implementar uma gestão eficiente de resíduos e adotar a coleta seletiva traz vantagens que vão muito além da limpeza ou organização. O impacto positivo aparece na convivência, nas finanças do condomínio e, claro, na preservação do meio ambiente.
No dia a dia, a coleta adequada reduz o mau cheiro, evita pragas urbanas e melhora a imagem do condomínio diante de visitantes e novos moradores. Além disso, contribui para a valorização do imóvel e até para a redução de custos com manutenção e limpeza, já que os resíduos são descartados corretamente desde a origem.
Do ponto de vista ambiental, os ganhos são ainda maiores. A separação correta dos materiais aumenta o índice de reciclagem, reduz o volume enviado a aterros sanitários e colabora com a economia circular — permitindo que embalagens, papéis, vidros e plásticos voltem à cadeia produtiva em vez de virarem poluição.
Outro ponto importante é o engajamento coletivo. Quando o condomínio adota práticas sustentáveis, os moradores passam a refletir melhor sobre seus hábitos de consumo e descarte. Isso cria um senso de comunidade responsável e consciente, algo cada vez mais valorizado nas relações sociais e no mercado imobiliário.
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